Cidade: Rio de Janeiro
Datas: 28 de novembro
Equipe

Regência: Isaac Karabtchevsky

Orquestra Petrobrás Sinfônica

Elenco

Mariana Alcoforado: Carla Caramujo (soprano)

Freiras: Carolina Morel (soprano)

Sophia Dornellas (soprano)

Michele Menezes (soprano)

Sobre a ópera

Foi em 2016 quando pela primeira vez ouvi falar nas “Cartas Portuguesas”. Encontrava- me na cidade portuguesa de Serpa para acompanhar a montagem de minha ópera “Onheama”, produzida pela Teatro Nacional de São Carlos de Lisboa para o Festival Terras Sem Sombra. José António Falcão, Diretor do FTSS e especialista no patrimônio artístico e cultural do Alentejo, recomendou- me que visitasse o famoso Convento de

N. Sa. da Conceição, no município de Beja, que ficava a pouca distância dali. Falou-me de Sóror Mariana Alcoforado (1640-1723), sua moradora mais famosa, que deixou registrada em cinco cartas a ardente paixão pelo oficial francês Noël de Chamilly. Suas linhas acabaram publicadas em Paris no ano de 1669, sem autorização da remetente, sob o título “Lettres d’amour d’une religieuse Portugaise écrites au Chevalier de C. – Officier Francois en Portugal”.

A ideia de escrever uma ópera sobre o tema ficou em gestação por dois anos, até quando Arthur Nestrovski encomendou-me uma obra para a temporada 2020 do projeto SP-LX, que reúne a Orquestra Sinfônica do Estado

e São Paulo e a Orquestra da Fundação Gulbenkian de Lisboa. Não chegaram a passar dez segundos entre o convite, minha proposta de escrever “Cartas Portuguesas” e sua entusiasmada concordância. Conhecia a competência e paixão com que Arthur Nestrovski transita pela música e literatura, mas não imaginava que ele havia sido

o editor de “Cartas Portuguesas” na Coleção Lazuli, da Imago Editora, com retroversão de Marilene Felinto. Tudo conspirava a favor de Mariana Alcoforado.

Ao começar a escrever o libreto, logo notei que o caráter quase monotemático das cartas tornaria difícil o desenvolvimento do drama. Decidi, então, ampliar o foco, situando Mariana em sua vida conventual, dentro do contexto histórico e religioso

da época. Introduzi outros textos e outras músicas como elementos de contraste às cartas para provocar no enredo o jogo de “chiaroscuro” tão caro ao Barroco: o rito latino da Liturgia das Horas, um trecho de “Cântico dos cânticos” e o gregoriano “Veni Sancte Spiritus”. Devo à especialista em literatura portuguesa Maria Silva Prado Lessa a descoberta do lindo poema “Leanor”, de Rodrigues Lobo (1580-1620), usado na ária em que Mariana recorda a infância.

Ao compor a música, lancei mão de diferentes linguagens harmônicas para conseguir a expressão dramática desejada, tendo sempre como norte a adequaçãodo texto à prosódia, o contorno melódico e a tipologia vocal da solista. Estruturei a sucessão de recitativos e árias para que ocorressem sem interrupção, num fluxo musical contínuo que Wagner chamou de “a arte da transição”. Além de acompanhar a solista, a orquestra executa interlúdios instrumentais que retratam os sentimentos conflitantes da personagem e evocam a ambiência sonora do Convento de Beja.